segunda-feira, 27 de julho de 2009

O Nemátodo da Madeira de Pinheiro - 3

Depois de uma longa exposição prévia, eis a razão deste texto.
O Estado Português, em certos assuntos age de uma forma apenas explicável por ter vivido durante anos, na mais completa autocracia, donde resultou uma ideia de total necessidade de agir em conformidade com as ordens do Poder, sem cuidar de verificar da sua legitimidade / legalidade.
É certo que a doença existe!
É certo que não está totalmente controlada!
É certo que os proprietários são os grandes interessados no seu controlo!
Mas a verdade é que a culpa de o Nemátodo ter alastrado pelo país, é do próprio Estado, que, durante anos, nada fez para controlar aquela doença.
Porquê a pressa agora?
Porquê agir com a atitude “dada a ordem, os proprietários tem de cumprir uma vez que decorre da lei”?
Qual lei? Qual a obrigação de cumprir? Quem dá a ordem? Quem responsabiliza os proprietários?
Esta atitude autoritária é perigosa e nada salutar, tanto mais que aliena a vontade de colaborar dos próprios proprietários
É que “por bem tudo, por mal nada”.
A ideia deste texto, não é apelar á desobediência civil.
Não pelo contrário pretendemos apenas esclarecer o assunto “doença do Nemátodo” e pedir a colaboração das pessoas com as suas árvores marcadas como sintomáticas.
Mas não podíamos deixar de criticar a actuação do Estado nesta questão.
É que os técnicos do Estado em nada aparecem.
Quem dá a cara são as equipas de sapadores e as estruturas que as sustentam e esses não podem dar ordens.
Muito menos ordens que devem ser obedecidas sem questionar, que a ninguém é legitimo dar.
Nem ao Estado.
Vale a pena pensar nisto!

O Nemátodo da Madeira de Pinheiro - 2

Ora, como se dizia no último texto a única forma conhecida de controlar a doença do nemátodo será através do controlo do insecto que o auxilia.
A janela de possibilidade de impedir a referida doença de alastrar foi há muito fechada.
Seja porque já não é mais possível reagir contra o Nemátodo. Seja porque não mais é possível proceder, licitamente, á execução de trabalhos de silvicultura, na floresta nacional, por estarmos hoje em período crítico em que o risco de incêndios é maior.
Em Castro Daire, sem se saber muito bem como, surgiu um foco de infecção pelo Nemátodo, localizado na povoação de Sobradinho, freguesia da Ermida.
O Estado, em Dezembro de 2008, iniciou, tardiamente, um plano de contenção daquela doença. Tardiamente, porque só em Dezembro, contactou as equipas de sapadores florestais do concelho, para lhes pedir a sua colaboração. Tardiamente, porque atrasos na regulamentação de tal plano, ditaram que a sua execução só se iniciasse em finais de Fevereiro, inícios de Março de 2009, com um prazo de conclusão, para 30 de Março desse mesmo ano.
Ora, o plano consistia em duas grandes linhas de orientação:
1º - No referido ponto onde se havia descoberto a doença, deveria ser removido / destruído todo o material lenhoso, num raio de 50 metros em redor das árvores que se sabiam infectadas, criando-se assim uma faixa de contenção impeditiva de novos focos de doença.
2º - Nas freguesias que ficassem localizadas, num raio de 3 km em redor das arvores infectadas, as equipas de sapadores marcariam arvores com sinais de infecção, ou propicias á postura dos ovos pelo insecto que transporta o Nemátodo, para que fossem removidas pelos seus proprietários.
O referido plano teria uma característica interessante, os locais a controlar pelos sapadores foram, previamente escolhidos, por técnicos do Estado, bem instalados nos seus gabinetes e aparentemente sem qualquer conhecimento do terreno.
Afinal só neste concelho de Castro Daire, foram percorridos, qualquer coisa como 200 km2 pelas equipas de sapadores.
Não havia por isso tempo para implementar o plano em si (marcação das arvores, contacto com proprietários e controlo / execução da remoção das arvores).
Pelo menos não com o salutar e democrático processo de prévio contacto e esclarecimento das populações. (continua)

O Nemátodo da Madeira de Pinheiro -1

Doença de origem asiática, o nemátodo da madeira do Pinheiro é uma das pandemias do século passado que atingiu Portugal e que foi, por todos, negligenciada.
De facto, esta doença, presente em Portugal há cerca de 15 anos, passou despercebida, pura e simplesmente, porque incidia somente sobre a floresta nacional. E, diga-se de passagem, que assim continuaria se não fosse o facto de termos integrado a União Europeia.
Mas comecemos pelo inicio e pela descrição, não técnica, da própria doença…
Um ser microscópico, da família das lombrigas, com uma duração de vida de apenas 3 dias, mas uma capacidade de reprodução fenomenal, infecta as árvores resinosas, por exemplo, o pinheiro bravo, tão comum em Portugal.
A infecção por este ser microscópico resume-se essencialmente pela ocupação do canal central da seiva que alimenta a árvore. Dizendo de outro modo, os nemátodos sugam o alimento da árvore ocupando exponencialmente o cerne da mesma.
Sempre de uma forma muito rápida (em apenas duas ou três semanas), a dita árvore começa por definhar, secando por completo o que se evidencia pelo amarelecer das suas agulhas e pela falta de resina.
Más notícias, nesta praga, são o facto de não existir um método não laboratorial de a comprovar e o facto de não existir ainda uma cura para a mesma.
A boa notícia é que só existe uma forma de haver contágio – a colaboração de um insecto muito comum na nossa fauna. Este insecto que vive e se alimenta das árvores, secas ou mortas da nossa floresta, transporta o nemátodo nas suas vias respiratórias, de árvore para árvore.
Ora, este insecto tem um ciclo de vida bastante bem estudado.
Durante o período entre Outubro e Abril, o dito insecto coloca as suas larvas em árvores resinosas e secas da floresta nacional, que se vão alimentado e crescendo, para no último mês se transformarem no dito insecto.
Este levanta voo no mês de Abril, para fazer a sua postura noutra árvore, percorrendo distancias que no seu máximo terão 3 km.
Assim controlar este insecto é a única forma de controlar a infecção pelo Nemátodo.
Continua…